domingo, 4 de dezembro de 2011

Lady Gaga e a realidade em Marry The Night

Ela não deixa o hype em torno do disco Born This Way (2011) desandar. Já seu quinto single (os anteriores foram a faixa título, Judas, The Edge Of Glory e You And I), Marry The Night é a estréia da mother monster como diretora. Seguindo a escola Michael Jackson de clipografia, o novo vídeo tem mais de 13 minutos, e é baseado em uma experiência real da vida da cantora.
Ela sofreu um grande baque quando foi dispensada da sua primeira gravadora. Foi até internada devido a esse acontecimento traumático. Mas ela não desistiu, deu a volta por cima e você sabe o que aconteceu, né?


O clipe começa com um discurso desconcertante: "Quando eu olho para o meu passado, não é que eu não queria ver as coisas exatamente como elas aconteceram, eu apenas prefiro lembrar de uma forma artística. E, verdadeiramente, a mentira toda é muito mais honesta porque eu a inventei". Soa artístico e instigante, inicialmente, mas soa covarde quando bem avaliado.

Ao contrário de todos nós, Gaga parece acreditar que ela pode manipular tudo para ficar mais confortável para ela. Ela continua afirmando que seu passado é como uma pintura e que ela deve preencher todos os buracos feios e tornar bonito de novo. “Eu odeio realidade”. Uma cantora que faz um disco para acalentar seus fãs dizendo que a alienação e negação são as saídas para enfrentar os problemas? Como se a fama e o dinheiro a libertassem de viver no mundo real como todos nós. Soa-me meio Michael Jackson e, por isso, me assusta muito.

Gaga está numa maca. Ela meticulosamente explica que as enfermeiras estão vestidas com Calvin Klein e usam verde porque essa cor vai ser importante para a moda em breve. Essa parte é divertida e mostra como a criação artística de um vídeo vai muito além do roteiro. Preste atenção à cena de Gaga conversando com a enfermeira e dando uma bela interpretação.

Depois de um momento Cisne Negro-encontra-Alien, vemos a cena onde Gaga recebe a ligação com a mensagem de sua desconexão com a gravadora. Ela surta, se suja com uns snacks que representam, provavelmente, as drogas que ela usava na época (como cocaína) e pinta o cabelo. E decide voltar à luta.

Depois de um prelúdio muito bem arquitetado, o momento musical chega e decepciona. Tanto cuidado na parte anterior e nessa só vemos Gaga dançando? Na rua, no momento da revelação da persona Lady Gaga; no ensaio do grupo de dança; e na rua novamente, mas dessa vez, não sozinha, nem como mais uma. Como a figura principal. E já com as informações de sua futura gravadora escrita na mão.
Então ela dançou seu caminho ao topo? Foi apenas isso que aconteceu entre o surto e The Fame (2008), disco de estréia de Gaga? Não. Muita coisa aconteceu. Parte até é mostrado em rápidos flashes perto do fim do clipe. Mas essa parte (a que realmente importa) não é mostrada. Apenas a queda e depois a fênix já renascida são vistas. Sempre dentro do personagem que é Lady Gaga (por mais que ela diga que Gaga e Stephanie Germanotta são a mesma pessoa, Stephanie não tinha o luxo de poder viver a vida como Gaga vive), ela quer ser vista cinematográficamente.

Tudo é bonito, calculado, intenso, catártico. Todo dor é prazerosa (uma forma de auto-piedade), cada movimento é elegante (mesmo que falsa elegância como o cigarro que ele fingi fumar - ela confessou para a Rolling Stone que não fuma de verdade).A vida não é assim. Na vida real, você tem que se dedicar, você hesita, falha, nem sempre consegue o que deseja. Gaga, não. Ela sempre está pronta. Por isso nunca pode sair como roupa normal. Ela sempre oferece um show, sempre está preparada para isso.

Qual a intenção de Gaga? Tornar sua vida mais artística como uma forma de exploração do conceito de realidade ou fingir que foi algo mais interessante do que aconteceu? Na primeira escolha, teremos uma artista ousada e corajosa, brincando com conceitos que o diretor Luis Buñuel admirava. Na segunda, uma artista que quer inspirar os outros, mas não aceita sua humanidade (fragilidade, fraquezas). Isso a torna distante das pessoas que ela pretende comover.
O clipe pretende contar uma história autobiográfica. Segundo Gaga, tudo aconteceu, mas é sua versão da realidade, então cabe a nós decidir no que achamos que foi real e no que não foi! Dã! Resumo: ela disse que ela inventou uma história baseada em uma experiência real. Mas como é da vida dela, o que ela inventou também é real! Sério?

Para saber mais sobre o clipe, a Mari Moon fez uma análise do clipe (cena a cena) no seu blog.

Verdade seja dita, só Lady Gaga consegue levantar tantas questões com um clipe pop. Mesmo vacilante em alguns momentos e conceitos, ela entrega algo digno de nota e bonito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

BuscaPé, líder em comparação de preços na América Latina
Compare Produtos, Lojas e Preços