quarta-feira, 16 de junho de 2010

Sandy – Manuscrito (resenha faixa-a-faixa)


Já ouvi Manuscrito muitas vezes. O bonito debut solo da Sandy confirmou minha impressão e expectativa de um trabalho íntimo e introspectivo. Produzido pelo irmão (Júnior Lima) e pelo marido (Lucas Lima), Sandy se fecha em si para se expor de verdade pela primeira vez – pelo menos de forma tão consistente e plena – e o resultado é muito positivo.

Verdade que as letras ainda necessitam melhorar em muitos casos, mas isso vem com o tempo, prática. O que fica claro é que ela entendeu a artista e pessoa que é agora, e não teve medo de explorar isso em vez de algo que poderia ser mais radiofônico. Tem que ter muita coragem para fazer isso. Só por isso, ela já mercê parabéns. Eu dou uma nota 8 ao disco. Inicialmente, tinha planejado dar uma nota sete, mas o disco cresceu em mim, então mudei a nota. E fico curioso para ver quais serão os próximos passos da Sandy. Na direção certa ela já está.

Agora, a resenha faixa-a-faixa:


01. Pés cansados: Abre o disco e é uma dos melhores momentos dele, além de ter sido escolhida como a música de trabalho. Ela nos lembra que em alguns momentos a maior liberdade é pertencer à alguém (“Sem medo de te pertencer, volta para você”). Produção corretíssima.

02. Quem eu sou: A mais pop do disco, segundo a própria Sandy. Uma canção sobre identidade. Parece ter saído do Wild Hope da Mandy Moore (outra cantora que ousou crescer e modificar sua carreira fonográfica. Dica: se você gosta da Sandyt, tem de ouvir o Amanda Leigh e o Wild Hope da Mandy). Eu gosto muito. Para levantar a moral e criar coragem de se jogar no que for preciso.

03. Tempo: “Lembranças, cobranças, vinganças/...E todo o medo, desespero e a alegria/...Isso vai passar também”. Angustiada e buscando acreditar na redenção que o tempo traz. Melodia gélida que revela a fragilidade sentida no momento.

04. Ela / Ele: Segue a escola chicobuarquiana de contar história. O encontro, paixão, amor e casamento do “aspirante à poeta”(ele) e “a inspiração”(ela). Toque de brasilidade do cd.

05. Dedilhada: folk clássica sobre plenitude (momentânea, na maioria das vezes – pelo menos comigo ) de perceber a inutilidade do medo e do neuroticismo. Leve e com vocalizações harmônicas lindas.

06. Sem jeito: Abusada, a roqueira canção é sexy e cantada por uma atrevida Sandy. Divertida por ser sexy sem ser séria e tensa como, por exemplo, quase tudo que a Rihanna tem no repertório. Imagino como seria interessante uma parceria ao vivo com a Pitty nessa música. Sim, sei que seria o encontro de dois mundos bem diferentes, mas é por isso mesmo acredito que seria muito legal. Até porque se você ouvir Me Adora vai perceber que não é tão estranho a associação da Pitty com essa canção.


07. Duras Pedras: Letra, melodia e harmonia mais (in)tensas de todo o disco (“Aceito os meios pra alcançar o fim”). “Piso as duras pedras pra entrar no mar, mas a calma da água ao beijar a minha sede pela paz me eleva”.

08. O que faltou ser: O início é fraco. Mas o refrão é muito bom e a ponte também. Adoro como ela usa frases bem longas como num fluxo de consciência que era tão estimado e perseguido pelo escritor beatnick Jack Kerouac.

09. Perdida e salva: Se entregar ao ser amado e encontrar nele a segurança. “Apesar de ser tão imenso cabe em mim o mundo que você me deu/...Não há sensação melhor/Sinto estar
Perdida e salva”.

10. Dias iguais: A faixa conta com o piano e voz da britânica Nerina Pallot. Piano com cara de clássico, letra em português e inglês. Honestamente, acho que a Nerina se sobresai À Sandy aqui. Vale chamar atenção para a parte catártica final, que depois retorna para a delicadeza inicial.

11. Mais um rosto: Provável segunda mais forte canção do disco. Além de grande candidata à música de trabalho. O instrumental traz timbres muito bonitos, letra de óbvio grande teor autobiográfico. “Nem sei qual a cor da dor de ser mais um rosto que mente” é uma senteça forte e que permanece na cabeça. Imaginar uma exposição tão maciça que te despe do seu direito de ser anônimo é realmente tortuoso.

12. Tão comum: “Se você me perguntar o que é que eu tô fazendo/Eu digo que não sei/
Se você me perguntar o que eu quero do futuro/Eu digo que não sei”. Curtiu? Ouça também “Coçando” da Ana Cañas.

13. Esconderijo: Com apenas um minuto e três segundos, encerra o disco de maneira introspectiva e metafórica com a história de um menino assustado em um quarto escuro. A própria Sandy gravou piano Rhodes.



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