quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A Rede Social - David Fincher e Aaron Sorkin não se decidem em contar ou não a história da criação do Facebook


A Rede Social (The Social Network), novo filme do espetacular diretor David Fincher (Clube da Luta, O Curioso Caso de Benjamin Button), está cotado como um dos principais candidatos as categorias de Melhor Filme da temporada de prêmios de cinema (Oscar, Globo de Ouro...). Sou um grande fã do David, então, foi com entusiasmo que fui assistir A Rede Social.



A história é baseada na criação do Facebook, o site de relacionamentos que já tem mais de 500 milhões de usuários. Com o financiamento do amigo brasileiro Eduardo Saverin (Andrew Garfield), Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg) se apropiou da idéia dos gêmeos Winklevoss (Armie HAmmer) e criou sem eles um site de relacionamento exclusivo para alunos da Universidade de Harvard, The Facebook. Tudo isso é mostrado no filme, mas sem nenhuma vontade em contar como realmente aconteceu, como já afirmou o David Fincher, o roteirista Aaron Sorkin, Mark e até Eduardo (o filme é baseada em um livro do escritor Bem Mezrich que tem Eduardo como uma das principais fontes).

Mark (Jesse Eisenberg) e Erica (Rooney Mara) na cena inicial do filme

Não entendi porque contar a história do Facebook, usando os nomes reais das pessoas envolvidas, os locais certo, o ano, mas não contar o que realmente aconteceu. Ou a história é interessante, ou não é. Ou é baseada em algo ou levemente inspirada por algo (nesse caso para quer usar os nomes reais, se a realidade não será retratada?). No filme, Mark cria o Facemash, site no qual os usuários votavam em embates de beleza entre alunas de Havard, motivo pela dor de cotovelo de ter levado um fora da namorada. E em outro momento, decide levar o já criado Facebook para outras faculdades depois de ser esnobado pela ex num restaurante. O Facemash fez grande sucesso e foi por causa dele que os irmãos Winklevoss decidiram convidar Zuckerberg para participar do projeto deles. Na vida real, Mark continua com a mesma namorada que tinha desde antes do Facebook. Assim, que assistir ao filme, não vai saber de verdade como e porque ele criou o site.

Rooney Mara interpreta Erica Albright (ex do Mark)

Ao contrário do que eu havia lido, achei os personagens unidimensionais. Sean Parker, criador do Napster e que chega para desestabilizar a relação de Mark com Eduardo, é um imbecil, cheia de papo, mentiroso inveterado e oportunista. Mark é um gênio anti-social, ressentido, desconfortável, motivo por inveja e vigança - contra a ex-namorada, os gêmeos (o roteiro até tentar conectar o que Mark fez com os irmãos à briga dele com a namorada na cena inicial do filme), contra o amigo brasileiro.

Sean Parker (Justin Timberlake) no seu primeiro encontro com Mark e Eduardo

O real
Zuckerberg tem constantemente um bobo sorriso no rosto. Na personificação de Jesse Eisenberg, ele é taciturno, move muita a cabeça, mas quase não tem expressão facial, não ri ou expressa grande felicidade e parece alguém com grande possibilidade de sofrer um surto psicótico. O filme retrata as batalhas judiciais que ele tratou contra Eduardo e contra os Winklevoss. Nesse momento, Mark sempre é arrogante, mal educado e impaciente. Seria muito interessante saber como real Mark se comportou nos durante os processos, ver essa outra parte de sua personalidade (diferente do sempre sorridente Mark em aparições públicas – também não muito sincera, possivelmente), mas o filme não possibilita isso.


O roteiro não é mal escrito. É um bom roteiro, mas se perde na indecisão de contar ou não a história. Tudo tem que ser cinematográfico. Como na cena onde um amigo dos gêmeos descobre que o Mark roubou a idéia do site e já tinha colocado sua versão online. Nessa cena, Divya (Max Minghella) está assistindo a uma apresentação de canto, quando vê sua namorada acessando o Facebook. Ele se levanta, pega o computador, saí apressado e caí. Todo mundo olha para ele, o coral para de cantar.Em outro momento, um amigo pergunta a Mark se ele sabe se uma colega está namorando ou não. Mark tem uma idéia (colocar o relacionship status no perfil dos usuários) e saí correndo, sem responder ao amigo. Sean Parker descobre o site no computador de garota com quem dormiu e a chama para questionar sobre o site. Ela responde que já vai sair do banho. Ele, então, grita que tem uma cobra no quarto para ela sair logo do banho.

Durante uma importante conversa-discussão do Eduardo com Mark, a namorada do brasileiro surta e toca fogo no presente que havia recebido. Então ele tem de continuar a conversar no viva voz, enquanto apaga o fogo. Por que as pessoas têm sempre que sair correndo e/ou fazer uma cena? Funciona no cinema, mas não é assim que as coisas acontecem na vida real. Fica a impressão de que a história não é muito interessante, por isso é preciso enfeitar as cenas para ficarem melhores.

Sean (Justin Timberlake) e Mark (Jesse Eisenberg) na sede do Facebook

Devido a tudo isso, ficamos sabendo muito pouco do que aconteceu. Realmente o Mark reencontrou o Sean na Califórnia por acaso? Mark foi tanto e tão facilmente manipulado pelo Sean?



Eduardo processou Mark porque ele queria diminuir a participação de Eduardo de 24 por cento para 10. No filme, Mark transforma os 30 por cento de Eduardo em 0,03! Claro que o Mark foi mau caráter, mas a diferença dos números é imensa. É possível entender ele querer mudar a participação motivado pelo fato de Eduardo ter investido 19.000 dólares no início do site, mas outras companhias depois terem investido milhões. Mas no filme, ele quer torna o amigo um investidor insignificante por inveja.

O filme termina fazendo referência a ex que deu um fora em Mark, como se tudo que ele fez foi para tentar impressioná-la.



David dirigiu bem o filme, mas não acho que ele mereça uma indicação ao Oscar de Melhor Diretor, como está sendo previsto. Ele é um dos meus diretores favoritos, mas o filme não tem aquele algo especial que torna uma obra uma das melhores do ano. Do elenco, vale a pena prestar mais atenção ao futuro Homem Aranha (na nova versão dirigida pelo Marc Webb), Andrew Garfield, interprete do Eduardo Saverin. As cenas onde Eduardo olha para Mark durante o processo judicial são muito boas - ele olha para o amigo com a dignidade de quem sabe que não foi injusto ou falso. A trilha sonora foi composta pelo Trent Reznor, vocalista do Nine Inch Nails.

Resumindo, o filme em si, é bom. Mas o fato de contarem uma história real inventando grande parte da mesma destrói o encanto que o filme poderia ter. Uma decepção, vindo de um diretor tão cuidadoso e criativo como David Fincher. Por exemplo, os gêmeos são interpretados pelo Armie Hammer, mas nas filmagens, ele era acompanhado pelo Josh Pence e, na pós-produção, o rosto de Armie era colocado no corpo do Josh. Ninguém usa tecnologia gráfica como Fincher. Mais do que criar o que não existe no mundo real, ele cria um mundo possível. Os CGI servem para contar a história e não o contrário. Quando o David Fincher fizer um filme em 3D, finalmente teremos a experiência que Avatar prometeu e não cumpriu.

A Rede Social: 8,0
Trailer do filme:

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