sábado, 19 de fevereiro de 2011

Cisne Negro (resenha)



Cisne Negro é uma experiência sensorial. Darren Aronofsky criou um filme de impacto avassalador. Sua força reside no ótimo roteiro de Mark Heyman e Andres Heinz, na entrega do elenco encabeçado por Natalie Portman, Vincent Cassel e Mila Kunis, e no estonteante regimento do próprio Aronofsky.

Nina (Natalie Portman) é uma dedicada bailarina que tem a grande chance de estrelar uma nova versão do Lago dos Cines quando a anterior bailarina solista se aposenta. Mas o diretor do espetáculo (Cassel) sabe que ela será perfeita como o Cisne Branco, mas tem dúvida se a frágil Nina será capaz de interpretar o lado sombrio do Cisne Negro. Ele ganha o papel, mesmo com a incerteza da sua capacidade em fazer os dois papéis. E ela será comprada para alcançar a perfeição.

Não muito diferente do que acontece em sua casa. Sua mãe, Erica (Barbara Hershey), é uma ex-bailarina que desistiu da carreira para ter a filha – ou, ao menos, é o que ela sempre diz para a filha. Ela trata a filha como se ela ainda fosse uma criança. Ajuda a tirar a roupa, coloca para dormir ao som de uma caixinha de música, controla até a privacidade - Nina, uma mulher de vinte e poucos anos, não pode nem fechar a porta do quarto.

Em grande parte dos momentos, a câmera de Aronofsky segue Nina enquadrando-a como se fosse uma pessoa andando muito próximo dela. E Nina é alguém que sempre tem que carregar o peso da visão dos outros sobre ela. Diferente do que aparenta, o balé é agressivo. Toda a leveza, placidez e naturalidade no palco escondem um universo onde a dissimilação é tudo. As bailarinas têm de executar movimentos complicados como se eles fossem simples, têm de serem alçadas para cima sem apresentar o peso corporal que tem, dançam nas pontas dos pés como se isso não fosse uma grande agressão a toda estrutura neuromuscular ali presente. Dor, pressão e competição são partes do dia a dia dos bailarinos.

E Nina foi criada para ser uma bailarina. Seu ego e seu mundo. Ela não tem nada fora ou além dele. E como já era possível imaginar, isso não é fácil. Durante o filme, Natalie Portman se entrega completamente à sufocante viagem de uma pessoa surtando sobre a enorme pressão em ser exatamente o que outras pessoas querem dela. Nina começa a fragmentar. Vê em alguns momentos uma mulher exatamente como ela, mas vestida de preto. Começam a surgir marcas de arranhões em suas costas.

O filme tem cenas de terror melhor do que 99% dos filmes do gênero. Obrigada a encontrar um lado sombrio dentro de si, a frágil garota não tem um desenvolvimento psíquico capaz de lidar com isso, e essa vulnerabilidade abre portas não tocadas. Como a sexualidade pouco explorada. Ou, quem sabe, nunca explorada.

Os responsáveis por isso serão o diretor e a nova bailarina (interpretada por Kunis). O primeiro a instiga e provoca. A segunda, a encoraja a ser mais livre. A cena de masturbação e sexo lésbico mostram um lado novo de (e para) Nina. A personagem de Kunis é sexy, confiante e selvagem (todas qualidades necessárias para interpretar o cisne negro). E é o único representante dessas qualidades no mundo de Nina. É como ver uma pessoa normal adentrar o mundo de um depressivo. E questioná-lo. Ou sabotá-lo?

A fotografia, montagem e edição de som do filme são exemplares. Tudo funciona muito bem e torna crível a sufocante vida de Nina. O que poderá acontecer? O que ela pode fazer para mudar? Ela tem como mudar? Ela conseguirá dançar o Lago dos Cisnes? Só vendo o filme para saber. Mas posso dizer que deixei o cinema EXTASIADO. Há muito tempo não vejo um filme tão complexo, particular e prazeroso de assistir. Filmaço, sem dúvida. Um dos melhores do ano passado - mas aqui só chegou em 2011. Merecerá qualquer Oscar que vencer (menos na categoria de Melhor Filme, porque esse TEM de ir para o A Origem). O de Portman é quase certeza que virá. Além da indicação na categoria Melhor Atriz, Cisne negro concorre em Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original e Melhor Fotografia.

Nota: 10,0

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